segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Um grande conselho e um pouco de vinho

Muito antes de saber ler eu já vivia num mundo de histórias que meu pai, um gráfico, me contava. Velhos contos das Mile uma Noites e de famosos livros infantis. Algumas ele próprio tentava inventar, mas não era seu forte. Geralmente fazia a maior confusão ou improvisava finais que nada tinham a ver com o princípio. Sua memória nunca foi grande coisa. Faltou-me dizer que enquanto me contava histórias ia bebendo bons goles de vinho. Gostava de beber principalmente à noitinha, depois do trabalho. Íamos para o fundo do nosso quintal, ele levando camufladamente uma garrafa numa folha de jornal. àquela distância não dava para minha mãe ver que ele bebia. O fundo do quintal, cheio de arbustos, era ótimo refúgio para beber. Mamãe, no entanto, que o conhecia bem andava desconfiada.

Ele bolou então a ideia de me levar junto.
- Vou contar histórias ao menino - explicava.
- Conhece muitas?
- Centenas, minha cara.
Íamos muito felizes para o extremo da casa e nos sentávamos sobre caixotes. Eu adorava suas histórias. Para contá-las, ele, porém, impunha uma condição: eu não poderia falar sobre o vinho à minha mãe. Receita do médico, confidenciou. É, estava doente. Mas não queria que ela soubesse coitada. Por que fazê-la sofrer? Por quê?
A guarda de tal segredo me tornava mais responsável e quase adulto. A cada um de seus goles, eu crescia.
- Mas como é que acaba a história, pai?
- Que história?
- A que estava contando.
- Refere-se à Branca de Neve?
- Essa o senhor já contou, mas pode contar outra vez.
- Bem, o Lobo Mau andava por aquela floresta, de olho nela. Seguia a menina por toda parte, o malvado.
- Pai, esse lobo era o mesmo que comeu a avozinha do Chapeuzinho Vermelho? - estranhei. Meu pai hesitou, reconhecendo que cometera um engano.
- Primo dele.
- Mas a inimiga da Branca de Neve não era bruxa? - lembrei.
Meu pai virou a garrafa.
- Certamente. Diabo de bruxa.
- E o quê o lobo faz nessa história?
Pergunta direta, exigia resposta.
- Ele ia passando pela floresta, como quem não quer nada, quando viu a Branca de Neve e os cinco anões brincando de amarelinha.
- Sete anões, pai - corrigi.
- No momento eram cinco. Dois estavam em casa com gripe porque tinham tomado muito sorvete. Mas o Lobo se deu mal porque o Pequeno Polegar estava por perto e deu cabo dele usando um estilingue. Dias mais tarde Branca de Neve e o Pequeno Polegar casavam-se - conclui, enfático.
- Ela não casou com um príncipe, pai?
O contador de histórias ia virar novamente a garrafa mas se deteve.
- Um príncipe? Sim. Um príncipe. Mas em segundas núpcias. Coisas da vida.
Foi assim que minha vocação para as letras despertou: ouvindo histórias confusas de alguém que gostava tanto delas quanto do vinho. Ele em breve seria o primeiro a ler minhas redações escolares. Palavra por palavra, mexendo os lábios. Sua aprovação era um largo sorriso, comprido como reticências. Quando meu boletim mostrava más notas, consolava-me revelando que ele nem sempre fora bom aluno. Na verdade fora péssimo, nem chegara a terminar o ginasial.
Além de gostar de vinho, meu pai gostava também de ler, vício adquirido no exercício da profissão de gráfico. Quando sobrava dinheiro, comprava livros. De um em um formara uma biblioteca de algumas centenas de volumes. Alguns nomes de escritores famosos li pela primeira vez naquelas lombadas. Machado de Assis, Eça de Queirós, Anatole France, Emile Zola, Oscar Wilde, um montão. Um dia me disse que ler era a melhor coisa que fazia na vida.
- A leitura me faz voar.
- Voar?
- Voar. Infelizmente nunca pude viajar além de Campinas, mas nas asas de um livro viajo. Conheci o mundo, virando páginas. É mais cômodo. E não é preciso carregar malas, entendeu?
Havia de fato um certo ar de sabedoria nele que não se percebe em qualquer pessoa. Lembro de ter me desafiado:
- Pergunte-me qualquer coisa sobre a China, que respondo.
Quando entrei para a universidade, comemorando, ele convidou-me para uma pizza com vinho. Certamente não no fundo do quintal. Era uma bela e ruidosa pizzaria. Eu merecia.
- Hoje vai vinho estrangeiro.
- É muito caro, pai.
- E daí?
Estava feliz com meu ingresso. Muito mesmo.
- As histórias e lendas que me contou de alguma forma me ajudaram a passar nos exames, pai. Senti mais chão sob meus pés.
- Acha que vai ser bom aluno?
- Tentarei.
- Mas, conseguindo ou não, faça algo ainda melhor. Ler. Há escritores e poetas que devem ser lidos. Lima Barreto, Drummond. Morrer sem conhecê-los é um vexame - disse após o primeiro gole. - A maioria dos doutores ignora tudo fora da profissão. O conhecimento deles cabe dentro de um pequeno escritório. Desconhecem o homem, desconhecem o mundo... Perdem o que se fez e se faz de melhor no planeta. Não gostaria que fosse um desses. Que tal?
- Acho que o senhor tem razão.
- Refiro-me ao vinho.
- Está ótimo, pai.
- Já que é sua opinião, peço mais uma garrafa.

                                                                                        - Marcos Rey

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Bringuisburg - capítulo 4

Capítulo 4
Mago Mizar, Apricot e Ruji.

                Mizar puxou a mão de Kate para dentro do grande prédio, ele só a largou quando chegaram em uma grande sala, repleta de quadros, no meio havia um escada toda feita de mármore e ouro. Havia no centro da sala um imenso tapete vermelho com vários símbolos em dourado. Móveis e prateleiras cheias de livros preenchiam as latereais da sala. Kate começou a observar os maravilhosos detalhes daquela sala.
-Temos que começar a organizar os preparativos e claro, como posso me esquecer? Segurança máxima a partir de agora... hm sim, claro, o jantar.. Er, aonde está Junk? – Mizar falava sozinho e em seguida estalou o dedo. Apareceu um homem ao seu lado, era transparente, tinha seu cabelo preso por uma pequena lança. Usava um roupão quase idêntico ao do Mago. Miza começou a conversar com o homem mas, Kate não o enchergava. “Ele está ficando louco?”, pensou a garota – Não minha querida, não estou louco.. ainda – disse ele sorrindo.
Kate corou – Você leu minha mente – disse ela pasma.
-Sim, sim. Me desculpe, não foi porque eu quis. Mas pelo jeito, você é a única que está pensando em algo bom, diferente do Robert que está pensando em levar a minha filha para a cama – disse ele encarando Robert.
-O que? Isso é um absurdo, Mizar. Como você pode pensar algo assim de mim? – disse ele rindo.
-Então quer dizer que você andou pensando em mim, Robert? – perguntou uma garota no alto da escada, estava observando todos. Era uma garota maravilhosamente linda, magra e esbelta. Tinha seus longos e belos cabelos negros amarrados com uma fita vermelha, deixando seus cachos caírem até sua cintura. Usava uma maquiagem muito bonita e forte. Seus ohos eram verdes, usava uma curta saia vermelha com alguns tecidos transparentes que chegavam aos seus pés, usava também um top vermelho. Havia vários símbolos em seus braços, cintura e pernas; estava usando várias jóias de ouro. Decia a escada lentamente, descalça.
-Ruji.. – disse Robert.
-Você demorou pra chegar – disse ela abraçando Robert e em seguida o beijando.
-Não precisamos assistir isso, minha filha – comentou o mago.
-Papai... – disse Ruji, afastando seu rosto do de Robert e em seguida olhando para Kate – Quem é essa? Arranjou uma nova mulher?
-Não, não. Ela não me quer. Por mais que eu tentei ela não me quis – comentou ele aos risos.
-Só uma idiota iria te querer.
-Está se chingando – sorriu ele e depois a beijou.
-Ai, ai. Se minha filha se casar com ele, nosso mundo estará perdido – suspirou Mizar.
-Concordo com o senhor – comentou Kate, Mizar sorriu para a garota.
-Venha criança, vou te mostrar o seu quarto – disse Mizar, puxando a mão de Kate e subiu as escadas. Os corredores eram largos, havia várias portas e Mizar abriu uma delas e entrou com Kate – Este é o seu quarto. Já sei o que você vai falar, ele é grande e que você não precisa de tudo isso – sorriu ele.
-Hm, é.. imenso, e eu realmente não preciso de tudo isso – disse ela.
-Vou te deixar sozinha – disse ele, e se retirou do quarto.
                O quarto era realmente grande, havia uma cama que caberia umas três pessoas. O guarda-roupa cobria toda a parede. Kate andou até a janela que havia no quarto, era grande e tinha uma vista extraordinária, ela se deitou na cama e começou a falar sozinha.
-O que eu estou fazendo aqui? O que o Edward está fazendo com aquela minha cópia?
-Deve ter dormido com ela, imagina só quando você for vê-lo! Ele vai te agarrar! – riu Robert entrando no quarto.
-Você sempre foi assim? Tão pervertido? – disse Kate sinicamente.
-Só um pouquinho... Então, quer ir ver o restante do lugar?
-Robert, que cicatriz é aquela que o Mizar tem abaixo do olho?
-Cicatriz? Ah sim, ele me disse que foi na guerra, porque?
-Eu já vi uma marca igualzinha aquela cicatriz... Só não me lembro aonde...
Robert permaneceu calado, fitanto Kate – Você não me respondeu, quer ir ver o lugar?

Robert desceu as escadas com Kate e andaram até a saída do prédio. Fora do prédio havia muito barulho, várias crianças brincando, animais soltos, pessoas vendendo todo tipo de objeto. Era tudo muito movimentado, Robert segurou Kate pela mão para não perdê-la de vista. Pararam então, em frente há uma praça, sentaram em um banco.
-Aqui parece uma cidade – comentou ela.
-Bringuisburg é, como eu vou dizer, uma cidade medieval.. como dizem no seu mundo – disse Robert – Kurlax é mais parecido com uma cidade, é mais movimentada e é escondida.
-Já esteve em uma cidade? – perguntou ela.
-Mais do que eu queria imaginar...
                Robert foi contando sua história, mas Kate estava longe demais para ouvir. Estava pensando em Edward, sentiu uma saudade imensa mas não podia fazer nada. Não sabia aonde era a saída de Kurlax, não sabia como voltar ao jardim do castelo, não sabia como atravessar aquele muro. E o que iria dizer quando Edward visse duas Kate? Qual seria a desculpa? Em que terminaria isso tudo?
-... e você não está me escutando – disse ele.
-Hm... – disse ela perdida em pensamentos.
-Você sabia que eu já beijei o Edward? E que ele já me chamou pra dormir com ele?
                Kate voltou rapidamente a se concentrar em Robert, pasma. Queria muito bater nele quando ouviu isso.
-O que você disse? – perguntou ela.
-Estou brincando, era pra trazer você devolta. Vou fazer uma coisa que eu sei que vou odiar – Robert assobiou e Ron apareceu em seu ombro – Ron, está na hora de uma caroninha pra aquele lugar.
-Sim, sim mestre – disse Ron animado e em seguida se transformando.
-Suba, Kate – mandou ele. Kate sentou nas costas do grande animal e Robert se sentou na frente dela – Quando você quiser, Ron.
                A senssação de estar voando é maravilhosa, mas não em um animal estranhamente rápido como Ron. Ele tinha uma velocidade incrível, Kate não conseguia ficar de olhos abertos, agarrou a cintura de Robert e apertou. Sintia uma grande vontade de vomitar, e achava que aquela senssação não iria acabar. Alguns minutos depois, Ron pousou. Kate não sabia como, mas conseguiu descer e pisar no chão, estava muito tonta e aquela vontade enorme de vomitar ainda continuava.
                Robert saltou e ficou ao lado da garota, colocou as mãos nos ombros dela. Ela estava tremendo tanto que não conseguiu ficar em pé; caiu de joelhos e vomitou. Robert deu dois passos para trás e esperou que ela terminasse. Ron pousou em seu ombro, ficou encarando a garota.
-Me desculpe, senhorita.. eu fui muito rápido – disse Ron, se culpando.
-Não, não.. Tudo bem, eu não estou acostumada a voar em animais – disse ela se levantando – Quero água.
-Ali tem um lago – disse Robert apontando pra direita. Kate andou até o local apontado, havia um pequeno lago ali. Ela se abaixou, juntou as mãos, as enxeu de água e bebeu – Melhor?
-Sim... aonde estamos?
-Por aqui – disse Robert andando no meio da mata. Kate levantou e o seguiu, andaram muito. Robert foi pelo caminho mais difícil, havia muitos morros e buracos, e como Kate era lerda o suficiente para não perceber os buracos, tropeçava em vários. Robert desceu um pequeno morro e estendeu a mão para a garota, Kate simplesmente caiu em em cima dele.
-Hn, desculpa – disse ela se levantando.
-Tudo bem – riu ele, se levantando – Acho que estamos chegando.
-Acha? – perguntou ela desesperada – Está namorando a Ruji e teve a cara de pau de dar e cima de mim?
-Sim, tive – disse ele descaradamente.
-Acho que já sei o porque de Edward de odiar tanto.
Robert olhou para ela e sorriu, ele segurou a mão da garota e a puxou para o final da floresta. Eles pararam de andar e Kate reconheceu o local. Era um enorme jardim, e no final havia um castelo que reconheceu imediatamente.
-Você deve estar brincando comigo – disse ela sorrindo.
-Não, não estou. Hm, tem algo que você tem que saber... o período que estave com Mizar foi alguns meses aqui em Bringuisburg.
-Meses? – perguntou Kate pasma.
-É, eu diria uns quatro meses...
-O QUE?
-Kate? – perguntou o jovem príncipe se aproximando, guardando a espada e se apressando para abraçá-la – Você disse que não iria demorar a chegar..
-Estava brincado com você. Você é realmente lerda com as coisas, e acreditou – riu Robert.
-O que você faz aqui? – perguntou Edward se afastando de Kate e se aproximando de Robert. O príncipe puxou a espada de sua cintura e apontou para Robert.
-Calma, calma... eu só trouxe Kate de volta – disse Robert sem se preocupar com a espada.
-Você estava com Kate? – disse ele, e desta vez, bastante enfurecido.
-Eu dormi com ela, cara. Pronto, falei. Agora é com você, Kate – disse ele encarando Edward.
-Você o que..? – Edward estava preste a atacar Robert, mas Kate foi mais rápida.
-Não, não.. não é nada disso! – disse ela ficando na frente de Robert, antes que Edward cortasse sua cabeça – Ele não dormiu comigo, nada disso aconteceu! Para de rir Robert, seu idiota!
-Ela estava sentindo saudades. E eu acho que você também – disse Robert tranquilo – Apricot está aqui.
-Como você sabe disso? – perguntou o príncipe guardando a espada.
-Como se eu não conhecesse a mãe de Ruji – disse ele com deboche, foi andando até o castelo.
                Kate ficou observando Robert andar até o castelo, cruzou os braços e suspirou. Edward a abraçou com muito carinho. Kate sorriu e retribuiu o abraço.
-Por que demorou tanto? – perguntou ele.
-Edward, não era eu que estava aqui. Era uma cópia minha – riu ela.
-Robert não mudou nada – disse ele a soltando. O príncipe segurou o rosto da garota e acariciou. Kate fechou os olhos, já esperava que ele a beijasse. Edward aproximou sua boca da garota e a beijou. Kate sorriu entre o beijo e o abraçou, Edward afastou seu rosto do dela e sorriu – Senti sua falta, sua cópia ficou o dia inteiro sem me beijar... vai ter que pagar por ela.
-Eu não tenho nada a ver com isso – riu Kate.
-Ah, tem sim – disse ele se aproximando mais dela. Kate começou a se afastar cada vez mais rápido. Edward então, correu atrás dela e ela correu para dentro do castelo. Edward foi mais rápido, antes que Kate tentasse se esconder dentro de alguma sala ele a puxou e a abraçou – Hm, eu vou te agarrar a força se continuar a fugir.
-Por favor, Edward. Já basta o Robert de tarado aqui – disse a garota corando.
Edward riu e deu um beijo em seu rosto.
-Por favor meu príncipe, temos visitas aqui – disse Robert acompanhado com uma senhora. Ela era diferente das outras mulherer que Kate vira em Bringuisburg. Era uma mulher de idade, mas não tão velha assim, seus cabelos eram cacheados, havia vários brincos nas duas orelhas. Ela não tinha cílios, no olho esquerdo haviam três fios na parte inferior do olho e no direito um fio na parte superior e três pontos abaixo do mesmo. Em sua testa havia uma tiara de ouro com os mesmo símbolos que Ruji tinha no corpo – Quer parar de agarrar minha amante?
-Amante, em? O que minha filha iria pensar disso, Robert? – disse a senhora – Eu vou voltar a Kurlax, Edward.
-E você também, Kate – disse Robert.
-Ela não vai – disse seriamente Edward – Temos coisas a fazer...
-Como por exemplo? Ficarem se beijando? Mizar precisa de você, Kate e você sabe disso – disse Robert suncintamente.
-Você pode ir querido – convidou gentilmente a senhora.
-Apricot, que isso... não vai querer levar esse sujeito para Kurlax, vai? – perguntou Robert.
-Sim, eu vou. Não está percebendo que ele quer ficar com a amada? – sorriu Apricot – Bom, vamos – Apricot segurou no braço de Robert e ordenou que os outros a segurassem. Ela começou a susurrar estranhas palavras. Élficas? Talvez. A língua mórfica de Kurlax? Talvez. Kate não entendia nada do que ela falava, mas rapidamente eles estavam em outro lugar, em Kurlax. Apricot estava diferente quando chegou em Kurlax, usava roupas e luvas escuras, a gola do vestido era tão alta que ultrapassava a cabeça. Ela foi andando na frente com Robert ao seu lado, estavam conversando em uma língua totalmente diferente do que tinha ouvido. Parte da conversa Kate entendia.
-Que língua é essa que eles estão falando? – perguntou Kate a Edward. Ele a encarou por um segundo e depois riu – Do que está rindo? – perguntou Kate, fora tão ridícula assim a sua pergunta?
-Você está falando sério? – disse ele se preocupando – Kate, é a única língua que você entende.. você está bem?
A garota não entendia o porque disso. Não compreendia nada do que eles falavam. Sua vista começou a ficar embaçada, tudo começou a ficar preto e branco. A única coisa colorida que conseguia ver eram duas pessoas muito estranhas se aproximando. Se eram pessoas, Kate não conseguiu identificar. Uma delas usava uma saia com todos os tons possíveis de azul, havia um cinto vermelho em volta de sua cintura. Sua blusa era verde com várias linhas roxas, ou roxa com várias linhas verdes. O capuz e a calça eram rosa, a luva que usava era roxa. Kate não conseguia enchergar seu rosto, pois o capuz não permitia.. mas pode perceber que seus braços eram laranjados. A sua companheira era uma mulher estranha, seu corpo era de um tom azul turquesa. Seus cabelos loiros alaranjados, seus olhos roxos, sua boca vermelha. Tinha uma roupa vermelha e azul.. um vestido talvez; havia também, várias jóias coloridas em seus braços.
Kate já tinha visto de tudo, do possível ao impossível nesse mundo.. mas nada se compara com o que tinha acabado de ver. Duas criaturas totalmente coloridas dançando ao redor de todos. Dançavam como se estivessem homenagiando algum deus. Riam e dançavam loucamente.
-Robert, quem são esses? – perguntou Kate apontando para as criaturas.
-Quem? –disse Robert olhando em volta
-Muito engraçado vocês.. – zombou Kate – Isto não tem graça, são criaturas coloridas e estranhas – Kate começou a se afastar deles, começou a ficar estérica e nervosa. Sua cabeça começou a doer muito. Ela se sentou e gritou. Gritou tanto que não se escutava mais nada. Não ouvia Edward chamar ajuda, não ouvia Robert conversando com Apricot, não ouvia mais nada pois não havia nada. Ela estava em um lugar aonde só existia ela. A garota se levantou e começou a andar para ver se conseguia enchergar alguém.
                De repente viu as criaturas coloridas se aproximando dela. Kate sentiu medo, mas continuou a andar. Chegava perto quando uma delas gritou.
-Como ousa passar pela gente e não nos cumprimentar? – disse a loira desesperada
-Como ousa.. sua mera criatura sem graça e sem cor – disse rudemente a outra.
                Kate nem tinha chegado tão perto assim delas, não entendia o porque daquilo – Hn, me desculpe.. mas eu nem passei por vocês ainda.
-OHH! Como ousa falar isso para nós? Sabe quem somos? SABE? – disse a criatura com o capuz.
-Não.
-Ela não sabe de nada – a loira se sentou em uma cadeira que apareceu rapidamente do nada – Sabe quanto é quinze pessoas dadas a um Murumbutu?
-Murum o que?
-Tsc.. essa ai não tem jeito mesmo, devemos mandá-la a um Qizórks.
                A criatura do capuz vermelho se aproximou de Kate e tocou sua testa. Kate se lembrou de seus pais, mas porque? – Quem é Malcolm? Que nome estranho..
-Meu.. pai – disse ela tristemente, nem percebia que uma lágrima tinha escorrido pelo seu rosto.
-Chorastes porque, ó criatura sem cor? – pergunto a loira. Kate não precisou responder a pergunta para que elas entendessem – Faça um pedido.
-Qualquer um? – disse Kate.
-Lógico que sim, se você vai fazer um pedido você tem que pensar em qualquer coisa – comentou a criatura do capuz que aparecera em um piscar de olhos atrás de Kate.
-Você pode pedir pra ser mais colorida..
-...Mais esperta...
-...Bela com nós...
-...Inteligente como nós...
-...Rápida como nós...
-...Pode pedir um marido...
-...Pode pedir um amante...
-...Pode pedir um casa nova...
-...Tem també...
-Quero ver meus pais – disse ela seriamente.
                As criaturas pararam de falar e ficaram imóveis. Passado alguns segundos eles se olharam e sorriram – Tem certeza? – disse as duas.
-Sim.
                A loira se aproximou da garota e tocou sua testa – Feche os olhos criança – ordenou a criatura. Kate a obedeceu, e logo em seguida sentiu uma forte pressão na cabeça, queria abrir os olhos e saber o que estava acontecendo...
-Minha filha! Vai se atrasar querida! – gritou uma mulher.
-Já vou mãe! – respondeu uma garota.
                Kate não acredira no que via, a garota que respondeu era ela. Kate estava com um novo corte de cabelo, mais colorido. A mulher que gritou antes dela fora sua mãe. Ellen estava mais velha, já dava pra ver os fios brancos.Estava de terninho, provávelmente iria trabalhar.
-Kate! Sua aula é daqui a quinze minutos! Ele está te esperando lá fora! – gritou ela novamente.
-Eu sei mãe! – respondeu a garota se aproximando. Kate já estava pronta para mais uma aula. Provávelmente uma de suas últimas aulas. Ela se despediu de sua mãe com um beijo no rosto e saiu correndo porta a fora. A verdadeira Kate a acompanhou até a saída, queria saber quem era que estava a esperando, talvez fosse seu pai. Mas não era.
                Ele era muito jovem, de sua idade talvez. Seus cabelos eram loiros, tinha os olhos cor de mel, era bem bonito.
-Robert, vamos... nos atrasar! – disse Kate correndo.
-Eu sei, ninguém mandou dormir de mais! – riu ele correndo a acompanhando.
“Robert? O Robert primo de Edward? Namorado de Ruji? O pervertido Robert? Impossível, então era realmente verdade que ele conhecia uma cidade tão bem quando eu.” – pensou Kate. Ela então, saiu andando pela cidade.. muita coisa havia mudado. Quanto tempo havia se passado desde então? Viu Claire correndo, tentando alcançar Kate e Robert.
-HEY! Me esperem! – gritou ela.
-Esperar? Estamos atrasados! Não tem como te esperar! – riu Kate.
                “O que aquelas criaturas fizeram comigo? Por que Robert está aqui? Ele não é um personagem meu fictício? Como isso é possível?” – Kate se perguntou novamente. Havia tantas perguntas que queria fazer a Robert quando voltasse a Bringuisburg, ou a Kurlax. Queria saber o porque daquilo tudo, se Robert estava ali, outros também estariam? – “Edward...”
-Acho que já chega... – disse uma mulher.
                Kate estava deitada em uma cama, logo que acordou, reconheceu o lugar. Estava em seu quarto, em Kurlax.
-Acordou? – perguntou Robert que estava do seu lado, sentado em uma cadeira. Estava com uma cara séria, provavelmente já sabia o que tinha acontecido com Kate – O que você viu... apenas ignore. Eles nem sempre mostram a verdade e isso pod..
-Você mora em uma cidade? – perguntou ela em um susurro – Porque não me explicou isso direito? Robert, eu te vi lá.. você é um dos meus amigos!
-Eu te disse, Kate. Nem sempre eles mostram a verdade, o que você deve ter visto foi apenas uma alucinação, eles são bons nisso.
-Mas como você sa...
-ROBERT! – disse um homem abrindo estrondosamente a porta, estava desesperado – Robert.. meu senhor.. lá fora. O.. Ron..
Robert não quis saber do resto, quando ouviu o homem dizer ‘Ron’, levantou da cadeira e saiu correndo para fora do prédio. Kate ainda estava tonta, mas se levantou e tentou andar o mais rápido que podia atrás de Robert, queria saber o que havia acontecido com Ron. Kate demorou a chegar, e quando estava lá havia várias pessoas em volta. Algumas choravam, outras evitavam ver. A garota empurrou as pessoas, e tentou se aproximar e viu o grande leão voador ferido. Estava bastante ferido, parte de seu corpo estava sem a pele. Ron estava com a respiração rápida, e a cada fungada que dava gemia de dor. Robert não sabia o que fazer, começou a acariar a cabeça do animal e dizer que tudo ficaria bem, que Mizar iria ajudá-lo.
-Mes..tre.. – susurrou o animal.
-Shh, não fale nada, Ron – disse Robert – Só me diga uma coisa, quem fez isso com você?
                Ron demorou a falar. Fechou os olhos e ficou em silêncio por alguns minutos. Kate sentou ao lado de Robert e ficou a acariciar a cabeça de Ron. A grande criatura suspirou pesadamente, e chorou ao fazer isso. Disse algumas coisas, mas ninguém entendia.. o coitado não conseguia nem falar. Mas em uma palavra o povo entendeu.
-Rulet... – disse a criatura e calou-se.
                Kate não duvidava nada que Robert fosse imediatamente atrás de Rulet e se vingar. Mas ele não fez isso. Ficou quieto, acariciando o seu bicho e lamentando em silêncio. Kate percebia o quão triste e abalado ele estava, mas sentia também, uma imensa raiva pairando sobre ele.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Bringuisburg - capítulo 3

Capítulo 3
A decisão.

                Mais um dia ensolarado em Bringuisburg. Kate acorda no jardim do castelo e não encontra Edward. Ela se levanta e anda até a entrada do castelo, lá havia como todo castelo, duas cadeiras – as cadeiras reais – e pensou: “Um dia estarei sentada em uma dessas?”. Kate andou até elas e se sentou em uma. Era muito desconfortável, imaginou ter que ficar ali sentada por várias horas. Ela olhou cada detalhe da cadeira de ouro, passando a mão no braço dela. Edward a observava da pilastra do lado, sorrindo, até levar um grande susto.
-Olhando a garota né? – disse Trupik.
-Sua raposa estúpida – susurrou Edward recuperando o fôlego.
-Ela realmente é muito bonita, eu diria meu caro príncipe..
-Não diga – interrompeu o príncipe.
-Sim, digo.. o senhor está apaixonado.. – riu a raposa  alto.
-SHH! Ela vai ouvir..
-Ouvir o que? – perguntou Kate se levantando e andando até a pilastra.
-Hm, nada minha senhora – disse a raposa sorrindo.
Trupik por um momento pensou que morreria só com o olhar de Edward.
-O que fazia sentada lá, Kate? – perguntou Edward antes que ela suspeitasse de algo.
-Eu.. er, estava imaginando.. – disse ela olhando para as cadeiras – será que eu, um dia, estarei sentada nelas?
-Lógico que sim... bom, é claro se quiser se casar com.. er.. comigo – disse ele corando.
-Hmm, o jovem príncipe ficou com o rosto vermelho – zombou Trupik.
-Cala a boca Trupik – disse ele erguendo a raposa pelo rabo.
Kate riu.. e os dois perceberam o quanto engraçado foi, e a acompanharam.
-MAJESTADE! – disse Briu correndo até eles – venha rápido.
Edward colocou Trupik em seu ombro e seguiu Briu até a cidade. Kate correu atrás deles, tentando acompanhá-los. Ouvia-se muitas discursões, uma roda se formava no meio do pátio, a garota pensou então que alguém ou algo estaria naquele meio, sendo criticado. E ela estava certa, havia uma.... coisa. Não conseguia indentificar se era animal ou humano, era um bicho estranho... olhos vermelhos, pelo escura cheia de cicatrizes, orelhas de elfo, os dentes podres. “Um elfo talvez? Elfos são criaturas fantásticas, não seriam tão monstruosos como este aqui. O que é isso?” pensou Kate.
-Briu estava caçando e o achou. – disse uma mulher.
-O que é essa coisa? – perguntou uma criança ao pai.
-O que faz aqui? – perguntou seriamente Edward. Kate andou até ficar próximo de Edward. A criatura então, olhou para garota e se aproximou dela – Fique longe de Kate! – disse ameaçadoramente o príncipe puxando sua espada e apontado para ele. A criatura ignorou a espada e chegou perto de Kate, segurou as bordas de seu vestido e gritou. Todos tamparam os ouvidos, todos menos Kate. Era um grito horrível, um grito agudo. E então a criatura se transformou em uma águia e levantou voô.
-Mas o que..? – disse confuso Trupik.
-Kate, você está bem? – perguntou Edward segurando os braços da garota.
-Aquilo... você ouviu o que ele disse?
-O que? Ninguém ouviu nada, a não ser o berro que ele deu – disse Trupik.
-O que ele disse? – perguntou seriamente Edward olhando para o rosto de Kate.
-Eu não sei.. era uma língua estranha...
-Era mais ou menos assim: “Hamäpy àníet îog rõish”? – perguntou um centauro.
-Era – disse Kate assustada.
-É uma língua élfica, não é mais pronunciada..
-Uma língua morta – disse Kate.
-Exatamente. Dizem que os únicos dos elfos que sobraram, são escravos de Rulet. Os único que ainda a pronunciam – terminou Edward.
-Então o senhor quer dizer que Rulet o mandou aqui para...? – perguntou um cidadão.
-... Para mostrar que ela ainda está no poder, para nos mostrar que realmente haverá uma guerra ou para ver se realmente o príncipe achou a garota chamada Kate – disse Briu.
-Edward, o que vai acontecer? – perguntou Kate, segurando o braço do príncipe.
-Uma... guerra. Algo que nunca aconteceu em Bringuisburg há mais de mil anos. – disse Edward sem acreditar no que dizia – Vamos tentar ignorar o que vimos agora, vamos voltar ao que estávamos fazendo, Kate.. você vem comigo – Edward sai as preças, segurando a mão da garota para o castelo.
-O que está acontecendo? Edward... – perguntou Kate correndo para acompanhá-lo.
-Preciso falar com você – Ele a levou até o jardim do castelo, andou mais um pouco até eles ficarem completamente a sós – Kate, não quero te precionar... mas preciso saber se você vai se casar comigo – suspirou ele.
-Eu... hm..
-Kate, precisamos nos casar. Você sabe o que vai acontecer se nos casarmos..
-Edward.. eu duvido muito que mude alguma coisa. Você mesmo viu o que acabou de acontecer. Rulet está ficando forte a cada dia, o nosso casamento não vai mudar em nada. O que precisamos fazer é pedir ajuda para outros reinos.
-A profecia..
-Dane-se a profecia. Não vamos nos casar, pelo menos agora. Eu prometo que me casarei com você depois de tudo isso acabar, okay? – riu Kate.
Edward sorriu no canto da boca – Que tal começarmos a escrever as cartas?
-Cartas? – perguntou Kate.
-É, cartas.. O primeiro destino será Kulcrash, aquele reino ali. E depois aquele? Mongraut?
-Hm.. e se houver mesmo uma guerra, vai ter que aprender a lutar com a espada.. ouviu meu príncipe? – disse ela em um tom de superioridade.
-Há, acho que devia dizer isso pra si própria. – riu o príncipe, pegando sua espada.
-Ah é? – perguntou Kate, pegando também sua espada.
-Sim – disse ele desafiando-a.
A garota deu seu primeiro ataque e foi surpreendida pelo contra-ataque de Edward.
-Você melhorou muito, Kate – comentou o príncipe, colocando a espada perto do pescoço da garota. Kate apenas sorriu e chutou a perna do outro, fazendo com que o mesmo caisse de joelhos. Era o momento perfeito para que ela fizesse com que ele se rendece até começar a chover. Edward, em um movimento rápido, guardou a espada e abraçou Kate pela cintura, a levantando.
-Estou ficando molhada! – riu ela, apoiando suas mãos nos ombros do mesmo.
-Não ligo – sorriu ele pra ela. Edward abaixou Kate e a abraçou gentilmente, dando na garota um selar rápido em seus lábios. O que fez com que ela corasse fortemente. Ela afastou o rosto e disse:
-Acho que não deveríamos fazer isso agora... – Edward deu outro selar nela, e ela se afastou – Você é três anos mais velho que eu.. – o príncipe repetiu o selar, e ela novamente se afastou –  Deveríamos nos casar antes..Não tenho mais nenhuma desculpa..
-Ótimo – ele então, começou a beijá-la. Os dois nem ligavam para a chuva, e nem perceberam que Briu e Trupik os vigiavam da árvore próxima, rindo.
-Eu disse que ele estava gostando dela – comentou Trupik – Você me deve uma cesta de cenouras.
-Começou a gostar de cenouras né? – perguntou Briu.
-Sim, sim.. elas são.. maravilhosas – respondeu Trupik com os olhos brilhando.
-Você não tem jeito, Trupik – riu Briu, e com um rugido chamou a atenção dos dois – Vocês vão ficar doentes ai na chuva.
O príncipe e a garota riram. Edward a abraçou pela cintura e a girou, não se preocupava com a chuva. Kate caiu, deitou na grama e ali ficou com Edward.
-Seria muito bom se a cidade fosse assim, calma, bonita.. – comentou a garota.
-Cidade? – perguntou ele.
-O lugar aonde eu moro.. ou morava – respondeu ela. Kate então, levantou. A chuva estava parando, o céu estava clareando aos poucos. O príncipe continuava deitado na grama – Como vou voltar pra casa?
-Não se preocupe com isso agora, vai ter muito tempo para se preocupar depois que isso tudo acabar – comentou o príncipe – Vamos voltar para o castelo – disse ele se levantando – Temos algumas cartas para escrever, se lembra? – Edward começou a andar em direção ao castelo, Kate não disse nada apenas o seguiu. A garota andava atrás dele até bater a cara em um muro. Ela tentou se concentrar no que via. Viu a sua cópia andando atrás do príncipe.
-Como? Eu estou aqui! E o que é isso? Um muro invisível agora? – disse desesperada a garota. Ela tentou de alguma forma passar, mas era ímpossivel – Um muro apareceu do nada?
-PSIU!
                Kate se assustou, olhou em todas as partes a procura de alguém e então..
-PSIU! PSIU! PSIU!
                Uma criatura saiu da floresta e foi até o encontro da garota. Um gato branco, com manchas pretas nas patas. Seus olhos profundos como mais obscuros das faces dos treis reinos, e em suas costas haviam asas mais relusentes como as de Pégasos.
-Não me ouviu te chamar? – disse a criatura – vem, ele está te esperando.
-Hm, quem? – perguntou ela. Mas antes que ela obtivesse a resposta, o gato correu para dentro da floresta. A garota olhou novamente para o jardim do castelo, não havia mais o príncipe e a cópia.
-Anda garota! – miou estrondosamente o gato.
                A garota correu para a floresta, não encontrava mais a criatura. Olhou ao redor, andou mais um pouco e nada.
-Hm, ótimo, estou vendo coisas – ela já estava decidida a voltar para a pequena parte do jardim aonde estava quando um homem a puxou.
-Shh.. – o homem tampou a boca da garota com a sua mão e susurrou em seu ouvido – Não grite, não vou te machucar.
                Kate não quis saber, mordeu a mão do desconhecido e se afastou assustada.
-Quem é você? – Kate por um momento pensou em fugir, mas estava curiosa demais para ver quem era o homem que a fez calar. Era um rapaz muito parecido com Edward mais ou menos da idade dele, um pouco mais velho. Seus cabelos eram loiros, seus olhos verdes. Era forte, seus músculos se detalhavam por baixo de sua roupa.
-Não deveria morder as pessoas, Kate – disse o desconhecido – Meu nome é Robert.
-O que você fez? Por que não posso atravessar esse muro? Porque que tem uma cópia minha com o Edward? – perguntou a garota desesperadamente.
-Ei, calma. Eu tenho o poder de dividir o tempo. O que aconteceu não foi nada, o principezinho não vai perceber a diferença. Ela é idêntica a você.
-Hm.. principezinho? Ouvi um tom de descriminação. Não gosta do Edward?
-Não tenho nada contra ele – disse Robert rondando Kate – Vamos dizer que, não temos mais afinidade um com o outro. Brigas de criança, sou primo dele. – Robert foi andando, Kate o seguiu.
-Primos? Você.. você é filho da.. da..
-Sim, da Rulet. Bom, na verdade minha mãe é tia do pai dele. Sou praticamente primo dele, sou considerado da família... bom, acho que não mais, graças a minha mãe.
-Hm, e o que você quer comigo? – perguntou Kate correndo para alcançá-lo.
-Conversar, te ajudar.
-Me ajudar? Você pode me levar de volta pra casa? – perguntou Kate esperaçosa. Robert parou de andar e encarou a garota. Um riso saiu entre seus lábios.
-Não, não posso – riu ele.
                Kate não entendeu o motivo da risada – Qual a graça? – perguntou ela.
-Qual o motivo de não querer se casar com ele?
-Ela não gosta dele então – disse o gato.
                A garota não respondeu, apenas foi andando, se afastando dele. Não sabia pra onde estava indo e nem queria saber. Queria ficar longe de confusões como aquelas, estava cheia de a culparem por tudo aquilo, de preciona-la. Robert a seguiu silenciosamente.
-Não gosta dele? Então porque o beijou? – perguntou ele.
-Ela tem um cheiro estranho mestre – comentou o gato rondando a garota.
-Fique quieto, Ron – susurrou Robert.
                Kate parou de andar, olhou para o gato e ficou encarando.
-Me desculpe moça. É a segunda vez que Ron se intromete – disse ele se lamentando e em seguida, morde seu rabo.
-Ron! Pare de se machucar a toda hora – disse seriamente Robert.
                Kate riu, agachou e segurou o gato cuidadosamente, estava com medo de segura-lo e machucar suas asas.
-Porque está se machucando, gatinho?
-Eu desrrespeitei o mestre, tenho que me punir por isso – seu rosto entristeceu e seus olhos se encheram de lágrimas. Kate o aninhou em seu colo, Robert sentou do lado da garota.
-Ele gosta de receber carinho perto da orelha – comentou ele em um susurro.
                Kate então começou a acariciar a orelha do animal, Ron ronronou, fechou seus olhos e adormeceu. Robert riu baixo.
-É questão de segundos até ele adormecer – disse ele se levantando. Robert começou a se afastar dos dois.
-EI! AONDE VOCÊ VAI? – perguntou ela aos gritos.
-Siga-me, que verá – disse ele em um tom desafiador.
                Kate segurou Ron em seus braços e se levantou. Seguiu Robert, “O outro lado da floresta é menos estranho que esse”, pensou a garota.
-Hm, você gosta do Edward, não é? – perguntou Robert.
-Defina o gostar.
-Você o ama.
-Não – corou a garota – No meu mundo isso se chama “atração”. Eu me sinto atraída por ele, mas não o amo. Porque a pergunta?
-Por nada, quero conhecê-la melhor. Então se você não o ama, quer dizer que eu tenho chances com você? – riu Robert.
-O-o que? – perguntou pasma.
-É pra lá que vamos – Robert apontou pro nada.
-Aonde? – perguntou a garota sem entender nada.
-Vamos atravessar o outro lado do céu – disse ele olhando pra Kate com um sorriso no rosto.
                Kate não disse nada, não conseguia reagir. Robert foi andando até chegar na beira do penhasco. Ele se virou e encarou Kate, sorriu e estendeu a mão pra ela.
-Primeiro as damas – disse ele gentilmente.
-Hm, não que isso.. você pode ir primeiro. E se eu cair? Estou segurando o Ron, ele vai se ferir..
-Se ele se ferir, aquela sua cópia que está com o Edward desaparecerá. E aliás, o Ron sabe quando está ou não em perigo – disse ele com uma espressão de vitória no rosto.
-Isso.. isso é um absurdo, eu nunca atravessei um céu na minha vida. Acho melhor você ir primeiro e me mostrar como se faz.
                Robert suspirou, puxou Kate pelo braço e aproximou seu rosto do dela – Vou te beijar se você não atrevassar de uma vez, estamos perdendo tempo aqui discutindo. As tropas estão se espalhando por Bringuisburg e vão nos achar – Kate corou fortemente, olhou pro céu, olhou para baixo, a altura era imensa. Robert não esperou que ela tomasse a coragem e atravessasse, empurrou-a. Kate fechou os ohos com força, precionou os braços com muito força em seu peito e ficou parada.
-O que foi? O susto foi tanto assim? – perguntou Robert, que estava ao seu lado.
-Você está bem? – perguntou Ron, que estava no ombro de Robert.
                Kate não se espantou com o que viu, ela já tinha visto muitas coisas estranhas nesse mundo. O lugar que ela estava era sob as nuvens, poucas coisas eram sob a terra.
-Aliangand! Aliün chìuz! – gritaram várias crianças se aproximando de Robert. Kate não entendia nada sequer. Era uma língua estranha, muito diferente da língua élfica que tinha ouvido. Ela ficou impressionada com Robert, pois ele conversava com aquele povo como se fosse uma conversa normal em uma língua comum.
-Kate zuingbu – disse ele. Uma das crianças apontou para cima. Kate olhou o garoto, ele não tinha cabelo, havia vários símbulos em sua cabeça. Seus olhos eram azúis, da cor de sua boca. Logo em seguida olhou para cima e viu um prédio imenso. Robert a puxou pelo braço, Kate ficou observando cada detalhe daquele novo lugar.
                Robert assobiou, e em seguida o gato que estava em seu ombro desapareceu. E no céu, veio voando um animal enorme, “um leão?” pensou ela.
-Sua calda está começando a ficar vermelha, Ron. Está com fome?
-Sim.. – respondeu ele tristemente.
-Ron? – perguntou Kate.
-O que foi? Achou que eu era um simples gato voador? – riu o bichano – Para onde mestre?
-Para o Mago Mizar – disse Robert ajudando Kate a subir nas costas do bicho, em seguida sentou nas costas de Ron.
                Ron levantou voo. Kate segurou com força a cintura de Robert. Estava rápido demais, achou que cairia em cerca de segundos. Ron pousou em um pátil luxuoso. Robert desceu e a ajudou a descer.
-Oh, vocês chegaram.. hohoho – disse um homem velho se aproximando. Era careca, e em sua cabeça havia um gorro roxo. Em sua testa haviam rugas. Na face direita havia apenas um cílio no canto do olho e ele era grande o suficiente para chegar perto da sobrancelha, havia uma cicatriz em sua bochecha. Sua orelha era cheia de furos que eram emendados um no outro em uma corrente. Em sua face esquerda o olho era mais beixo que o outro, não havia cílios, sua sobrancelha era levantada. Em baixo de seu olho havia um cicatriz estranha que parecia muito com um símbolo, em sua orelha havia um alargador com um desenho de uma cruz vermelha nele. O velho também tinha uma argola no septo nasal. O que mais surpreendia, era que ele não tinha queixo. No lugar dele havia um buraco – E essa deve ser Kate – disse ele maravilhado pegando as mãos dela. Ele usava um roupão azul com manchas roxas, uma faixa dourada e um sapato dourado.
-Ele não vai te morder, Kate.. por mais que pareça – brincou Robert.
-Não escute o que o bastardo do Robert disser, hm.. está com fome?
-EU ESTOU! – miou Ron. O velho riu.
-Ah sim, que estupideza a minha, sou o Mago Mizar – cumprimentou ele – Vamos descobrir muitas coisas juntos – sorriu ele.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Bringuisburg - capítulo 2

Capítulo 2
Bringuisburg.

-Jovem príncipe. Acho que o senhor já foi longe demais. Acho melhor voltarmos – comentou uma raposa.
-Não, Trupik. Se é o que diz a profecia, tenho que encontrar a princesa – disse um jovem.
-E o senhor acha que é um princesa? Pode ser sei lá.. um unicórnio. HAHAHAHAHA! – riu Trupik.
-Cala a boca sua raposa besta. Desde quando príncipes se casam com animais ou camponesas?
-Hm.. não sei, tudo pode acontecer não acha? Então.. acho que devíamos descançar um pouco. Odeio ficar andando em florestas.
-Você é uma raposa, Trupik – disse Edward sem entender.
-Hn.. claro, mas ach.. – Trupik parou de falar e olhou ao redor, farejando.
-O que foi?
-Shh.. tem alguém ali – apontou para frente – acho que está dormindo.
Edward puxou a espada cuidadosamente para não fazer barulho, andaram até o local que a raposa apontara.
-Quando eu contar três – susurrou Edward para a raposa – Um.. Dois.. TRÊS!
-PARA! É.. é uma garota – disse assustado Trupik.
-Que.. menina estranha, qu- que roupas engraçadas – riu Edward – Ela está acordando.
Kate, acorda lentamente. Abre os olhos e diz..
-Hn.. mãe? Já chegou?
-Hn.. senhorita, sou príncipe Edward e esse é meu amigo Trupik.
-Hn.. – Kate senta na grama e percebe que não está em seu quarto, e sim em uma floresta.  – AONDE ESTOU? CADÊ MINHA CAMA? MINHA GUITARRA? – grita a garota assustada
-Kitaga? O que é isso? – pergunta a raposa ao príncipe
-GUI-TAR-RA.. ESPERA! VOCÊ ESTÁ FALANDO! VOCÊ É UM ANIMAL! NÃO DEVERIA FALAR! – Kate se levanta rapidamente.
-Sim minha senhora. Estou falando, aqui em  Bringuisburg todos falam – disse Trupik com deboche.
-Er, senhorita.. calma podemos te ajudar.. – disse calmamente Edward se aproximando da garota.
-Espera ai, você disse Bringuisburg? HÁ.. só deve estar brincando com a minha cara. Como um lugar que eu criei pode existir?
-Você criou Bringuisburg? Olha, isso seria mesmo impossível.. – disse Edward rindo.
-Você é Edward, certo? O príncipe Edward. Que tem que achar uma noiva chamada Kate e.. ai droga.
-Sim, sou eu e.. o que houve?
-Eu sou Kate – disse Kate meio sem jeito – Olha, não é o que está pensando certo? É que..
-Você é Kate? – disse Edward sorrindo para a raposa – Eu não acredito, sabe quantos dias estou te procurando?
-Sim, eu sei – susurrou Kate pra si mesma
-... Sabe o quanto eu tive que andar a procura de alguém chamada Kate?
-Hn.. sei.
-Senhorita..
-Kate – disse ela.
-Hm, okay. Kate, venha.. vou levá-la até meu reino e mostrá-la aos meus pai.
-Não, não. Sabe porque? Porque esse reino é louco. É maluco, desde quando animais falam? E você acha que eu vou me casar com você? Só por causa de uma profecia idiota? Você está muito enganado Edward, os dois estão. Eu não criei esse mundo pra eu me casar com um louco bonito. Vou voltar pra casa, não sei como, mas vou. – disse Kate irritada dando meia volta e andando para o  lado oposto dos outros.
-Hn, realmente meu príncipe, essa Kate é estranha.
-KATE! – gritou Edward, correndo até ela – Você não conheçe Bringuisburg..
-Conheço até demais – comentou Kate andando.
Edward a alcançou e a puxou pelo braço, Kate acaba encostando o rosto no peitoral dele, assim, ficando com o rosto corado.
-Kate, olha. Eu sei que você deve estar confusa sobre essa profecia, mas teremos que cumpri-la, teremos que trazer a paz pro meu povo.
-Olha, Edward.. eu não vou me casar com alguém que eu não conheço!
-Eu te entendo, eu também penso assim.
-Pronto! Ninguém vai casar – disse Kate se afastando dele mas pisando no rabo de um animal.
-AI! – disse o animal em um rugido.
-Não, não diga que é um leão.
-Hn, tudo bem, eu não digo – disse Edward rindo.
-Olhe por onde anda criança – disse um leão atrás de Kate. Um animal grande, com pelos cor de mel.
-Como vai Briu? – perguntou Edward com autoridade.
-Bem, muito bem Vossa Majestade. E o senhor?
-Bem, obrigado.
-E, se me permite perguntar.. quem é essa pessoa? – perguntou Briu rondando Kate.
-Ah sim, essa é Kate.
-KATE? NÃO! Então quer dizer que a paz reinará em Bringuisburg?
-Não – disse Kate irritada.
- O QUE? Não pode fazer isso, precisa se casar! Com o príncipeEdward! – disseram mais criaturas aparecendo entre eles.
-Eu.. eu só tenho 17 anos – disse Kate assustada ao ver mais criaturas estranhas se aproximando.
-E eu tenho 20. Não é grande diferença – disse gentilmente Edward, o que fez Kate corar.
-Olha, eu criei Bringuisburg, eu criei cada criatura que habita esse mundo e..
-Então foi você que trouxe essa desgraça pra nós – disse um centauro se aproximando.
-Bom, sim.. – suspirou Kate – eu sinto muito. Mas..
-Mas nada. Você pode tratar de nos trazer a paz – disse um animal – você que fez isso tudo, então trate de arrumar a bagunça que fez.
-Eles estão certo minha querida – disse o leão – Ajudaremos você. Se precisar de guerreiros, terá.
-Guerreiros? Não estão pretendendo fazer guerra, não é? – perguntou Kate pasma.
-Hm.. bom, a feitiçeira está voltando a ficar forte, precisaremos de alguma estratégia – disse o príncipe.
-Guerras não levam a nada – disse ela com tristeza.
-Lógico que sim! – disse emburrado a raposa – Bringuisburg não entra em guerra há vários anos, porque ninguém tem coragem de desafiá-la depois da guerra dos Guaritin. NÓS ganhamos! – comentou a Trupik com ar de superioridade.
-Trupik, menos.. – disse severamente Briu.
Por um instante, Kate se lembrou de seus pais. “Como eles deveriam estar sem a minha presença? Devem estar muito preocupados”, pensou a garota.
-Vou dar a vocês uma chance, para mostrar que eu sou a garota certa.
-Nos dar uma chance? – disse rudemente o centauro – Nos dar? Como se nós precisassemos de você, sua humana despresível – em certo segundos ele com um movimento rápido pegou a sua espada e ameaçou Kate, mas Briu foi mais rápido. Ele entrou na frente de Kate e rugiu, fazendo com que Kate caísse sentada.
-Tome cuidado com o que fala seu animal egoísta! – disse bravamente Briu.
-Não fale assim com ele sua bola de pêlos inútil! – disse outra criatura.
-HEY! Parem! – gritou Edward que fez todos se calarem – Chega. Mostraremos a Kate que ela é a garota certa. Briu, você que conhece os vales melhores que todos nós, me leve até lá. Passaremos Kate no portal da D’uest.
-Vão me passar aonde? – perguntou a garota assustada.
-Não se preocupe minha cara – disse educadamente Briu – estará segura.
Edward puxou Kate pela mão e foi andando, sendo guiado por Briu e vários outros animais. Kate não imaginava que Bringuisburg era realmente maravilhosa. O céu é diferente, não é aquele azul encardido igaul o da cidade, é limpo. Haviam animais de tudo quanto era tipo, tudo se mexia e falava.
-AI! CUIDADO! – gritou uma árvore ao sentir uma de suas raíses ser pisada.
-Hn, desculpe – disse Kate assustada.
-O que achou de Bringuisbug? – perguntou o príncipe.
-Melhor do que eu imaginava...
-Humf, essa garota não sabe de nada – disse Trupik.
Kate por um instante tentou chutar Trupik, mas Edward a impediu e depois sorriu para ela.
-Ele é mal humorado assim mesmo – susurrou ele em seu ouvido.
Chegaram então, depois de algum tempo, a uma árvore imensa, com troncos verdes e folhas azuis. E no meio do tronco tinha um formato de um rosto de uma mulher idosa. Briu rugiu, e cerca de segundos o rosto da velha começou a se mecher, até que ela bocejou.
-Nham... o que foi, Briu? Uma pobre árvore antiga não pode mais descançar?
-Você está descançando há mais de mil anos – disse gentilmente o leão. A árvore riu, e foi saindo dela uma mulher idosa. Seus cabelos eram tão brancos e brilhantes que pareciam prateados. Usava uma longa camisola rosada, andou até os outros descalça.
-Quem é essa garota agradável? – perguntou a mulher.
-Esssa é Kate, D’uest – disse o jovem príncipe.
-Kate? Hm.. aonde eu ouvi esse nome..?
-Na profecia – disse Trupik.
-Sim, sim.. minha cara, o que te faz vir aqui? – perguntou gentilmente D’uest.
-Eu apenas segui um conselho de uma amiga, estou vivendo as minhas histórias malucas. Uma árvore não fala! Existem várias garotas que se chamam Kate..
-Não no nosso reino – susurrou Trupik.
-...Não posso ser a única. – completou Kate, chutando levemente Trupik.
Uma das raíses da árvore se mexeu e puxou Kate pela cintura. A garota gritou, assustada, tentando se soltar.
-NÃO SE MEXA! – gritou o leão.
“Como não se mexer? Ela pode simplesmente me esmagar!”, pensou Kate. O tronco da árvore se partiu em dois, como se ouvesse uma porta no meio. Uma das raízes que a segurava, a passou por essa entrada, logo depois D’uets passou pela entrada. Kate não sabia o que fazer, fechou os olhos com toda a força que podia, estava com muito medo. “Relaxe a sua mente.” Disse a árvore.
-Pensar em nada? – perguntou Kate.
-Sim, não pense em nada – Por um momento Kate achou que estaria ficando louca, criou coragem e abriu os olhos. Teve uma incrível visão. Tudo dentro da “misteriosa porta” era um azul crepúsculo, no meio desse crepúsculo tinha um rosto de uma mulher idosa com os olhos laranjas e a boca vermelha. Sua voz era tão suave quanto a pele de um bebê. As raízes da árvore a soltaram, e ela sutilmente tocou os pés, como se houvesse um chão – Você está me achando bonita? – riu D’uest.
-Está lendo minha mente? – corou Kate.
-Estou, me desculpe. Como vou saber se você é a Kate que todos estão falando se não posso dar uma pequena olhada na sua mente? Hm.. você é muito teimosa minha criança. Corajosa até certo ponto. Gosta de música em? Edward adoraria ouvir você tocar Pleunest..
-Não, não.. não conte a ele que eu  toco algum instrumento..  er, Pleunest? – perguntou Kate, mas antes que D’uest pudesse responder, um forte raio de luz invadiu o misterioso local dentro da velha árvore. Kate por um instante sentiu muito frio, e percebeu então que não vestia mais as mesmas roupas que estava usando a menos de um minuto atrás, agora vestia um maravilhoso vestido azul bem claro, com mangas de bruxo, com detalhes riquíssimos em uma linguagem desconhecida em dourado. Algumas mexas de seu cabelo foi preso por folhas douradas, calçava sapatilhas douradas. Em sua cintura, estava presa uma espada. – “Eles acham que eu vou conseguir lutar com uma espada!” – pensou ela.
-Nós não achamos, nós sabemos disso – respondeu D’uest seriamente – Minha criança, você é a escolhida. Se não fosse, não teria sido possível essa sua transformação. Vamos, é hora de voltar.
                As raíses das árvores voltaram a segurá-la. Em questão de segundos, Kate regressara a Bringuisburg.
-Ela é bem teimosa – disse D’uest.
-Já sabemos disso – comentou Trupik.
-Então Kate, ela respondeu suas perguntas? – perguntou Briu.
-Na verdade, não tivemos muito tempo para perguntas, gastamos todo o tempo trocando de roupa – disse Kate olhando suas novas roupas.
-Você se acha corajosa? – perguntou D’uest.
-Sim, até certo ponto.
-Então mostre sua coragem para os outros. Prove a eles que você não passa de uma simples tocadora de Pleunest... ah sim Edward, ela toca – comentou D’uest.
-Hm, bom saber disso – riu o príncipe.
Kate fechou a cara, emburrada.
-Então jovem, provamos que você é a escolhida? – perguntou D’uest.
Kate olhou para baixo, queria chorar muito. O que que estava em sua cabeça? Aceitar concelhos de Claire.. “Viva suas histórias”.  Kate então derramou uma lágrima, e mais outra, e mais até que tampou o rosto com as mãos e começou a chorar. Sentiu alguém a abraçar forte e beijar sua testa.
-Kate, você pode fazer isso.. você teve uma coragem imensa de nos criar, então tem coragem de enfrentar o que não criou. Não estará sozinha. Vai ter ajuda de todos nós. Do nosso magnífico Briu o leão, de Kart o centauro, de Kish o lobo, deTrupik a raposa, e lógico.. vai ter a minha ajuda – Edward levantou o rosto de Kate, secou suas lágrimas e deu um beijo no rosto dela.
-Hn.. – Kate corou fortemente e disse – Okay, vou trazer a paz para todos vocês, lógico com a ajuda de todos.
Todos gritaram de alegria, Kate riu junto com Edward.
-Então, acho que não conheçe Bringuisburg inteira.. estou certo? – disse Edward pegando a mão de Kate.
-Hm.. não – disse Kate sorrindo.
-Então, venha.. irei te mostrar algumas coisas..
Edward foi andando e puxando a mão dela. Todos os outros olhavam para eles com sorrisos em seus rostos.
-Acho que ele gostou dela. – disse o lobo.
-Você acha? Você viu como ela ficou com o rosto vermelho só dele beijar sua testa. – comentou o urso.
-Logo logo eles se casam. – disse a raposa.

Edward e Kate andaram muito, Kate apreciou a vista de vários ângulos. Não imaginara Bringuisburg daquele jeito. Era um mundo muito lindo. Já estava ficando tarde..
-Quero te mostrar um coisa, vem.. – puxou Kate cuidadosamente até o final de uma montanha aonde tinha uma cachoeira do outro lado – Adoro essa parte, o por do sol aqui é mais bonito, e dá pra ver Bringuisburg toda.
-Que lindo, realmente eu não conheço o que criei.
Edward riu. Kate se sentou e ficou apreciando a paisagem. Era lindo demais pra pensar em como voltar pra casa ou como sua mãe ou seu pai devem estar agindo sem sua filha em casa. Edward sentou ao lado dela. Ele percebeu então que ela estava fechando os olhos lentamente, estava com sono e cansada.
-Kate, pode deitar no meu colo.
-Não, eu não estou com... – bocejou – sono.
-Não, que isso. – sorriu o príncipe.
Kate então deitou em seu colo, continuava com os olhos em Bringuisburg inteira.
-Ela é grande – comentou ela.
-Bringuisburg? Sim, é muito. Achou que era só uma cidadizinha? – perguntou Edward acariciando o rosto da garota.
-Hm, não.. eu imaginei que era só o seu rieno.
-Mas é, Bringuisburg é dividida em diversos reinos, mas o principal é o que meu pai comanda.
-Ah sim. Vocês mudaram a história.
-Ou você não pensou nela direito – riu Edward, Kate o acompanhou.
A noite havia chegado, Edward resolveu deitar. Mas antes ele acomodou Kate ao seu lado, apoiando o rosto da mesma em seu ombro. Os dois dormiram, ouvia-se apenas o som da cachoeira e os dos animais noturnos. Ninguém havia se lembrado de que a feitiçeira estava voltando a recuperar suas forças. Rulet estava ficando cada vez mais forte, e estava muito mais a frente que os outros. Rulet podia estar aprisionada naquelas ruinas, mas já tinha um exército pronto para atacar o castelo de Edward, queria matar o rei e a rainha por ter feito aquilo com ela.
Ao amanhecer várias criaturas horrendas atacaram Bringuisburg, Kate começou a  sentir muita dor no peito, como se estivesse criando um burado nele. Ela acordou gritando de dor. Edward acordou assustado.
-O que foi, Kate? – perguntou ele preocupado.
-Meu peito... dói.
-MEU PRÍNCIPE! BRINGUISBURG ESTÁ SENDO ATACADA! – Briu veio correndo e gritando.
-O que? Impossível... por quem? – perguntou o príncipe levantando e ajudando Kate a ficar de pé.
-Rulet – disse Briu seriamente.
-Briu, leve Kate para longe daqui. Ela está ferida, acho. Irei com os outros para casa – disse Edward em um mandado de ordem – Kate, eu volto. Briu irá cuidar de você.. okay?
-Não, eu vou junto. Esqueceu de quem fez isso tudo? – perguntou Kate – Estou bem, não estou ferida.
-Nem pensar. Você fica – disse o príncipe seriamente, e com um beijo na testa se despede dela. Edward sai correndo em direção ao palácio.
-Briu, eu quero ir pro...
-E você vai querida – interrompeu Briu – consegue caminhar? Vamos pra Bringuisburg rapidinho. Você precisa estar lá, você sentiu que Bringuisburg ia ser atacada.
-Vamos como? Voando?
-Exatamente.
-O QUE? Você também voa?
-Não.. – riu Briu – leões não voam.
-E nem falam..
-Hm, acho que está certa. – sorriu Briu – vou chamar um amigo meu. Ele nos levará e nos ajudará lá – Briu rugiu alto, muito alto – Espere um pouco, ele já vai chegar – minutos depois, apareceu então uma criatura que Kate nem imaginava em citar na história. Um grande dragão avermelhado, com manchas alaranjadas. Na ponta da calda havia vários espinhos. Seus olhos eram imensamente verdes.
-Briu, há quanto tempo – disse o dragão pousando.
-Sim, Sharku. Essa é Kate, e ela precisa de uma carona até Bringuisburg.
-Você não vai, Biu? – perguntou Kate.
-Vou correndo. É melhor pra mim.
Sharku sorriu para Kate e abaixou para que ela pudesse subir em suas costas – Se segure criança.
Não deu tempo de Kate responder, ele velantou voô. Era rápido demais, Kate então agarrou o pescoço do dragão, fechou os olhos com força. Em poucos segundos, estava chegando em Bringuisburg. O reino estava horrível, várias casas haviam sido queimadas, várias pessoas haviam se ferido. Mas Kate não percebeu nenhuma pessoa morta, isso foi um alívio para ela. Sharku então, cuspiu fogo no inimigo. Kate abriu os olhos e viu que o fogo de Sharku não atingia ninguém da cidade, apenas o inimigo.
-Como que você...
-Sou de sua imaginação, não sou? – disse ele sorrindo – Você que me deve uma explicação para isso.
-Hn, eu nem estava imaginando um dração na história – disse ela.
-Sabe usar um arco e uma flecha? – perguntou o dragão.
-Sim, aprendi antes de me mudar para Bolton.
-Imagine um, e o use.
-Mas e se eu atirar em alguém do nosso lado?
-Imagine o arco direito – disse Sharku cuspindo mais fogo.
Kate então, o obedeceu. Imaginou um arco e uma flecha que matasse apenas o inimigo, e em suas mãos apareceu um. Kate mirou bem em um bicho estranho que estava derrubando uma casa e então ela soltou a flecha. A arma atravessou a criatura em uma velocidade incrívelo, o matando.
-Muito bem, Kate – disse orgulhoso Sharku.
-Obrigada – sorriu Kate triunfante.
-Vou descer no telhado do castelo, desça e tente chegar na torre mais próxima, entre na porta da torre e procure o rei e a rainha, eles devem estar feridos.
-Hm, okay – disse ela sem esperanças.
Sharku então, pousou no telhado do castelo. Kate desceu e com cuidado, conseguiu chegar até a torre. Abriu a porta e entrou no castelo. Ao abrir a porta se deparou com uma criatura estranha. Seu rosto era totalmente deformado, seus dentes podres. Os olhos vermelhos. A criatura segurava uma arma e com ela, atacou Kate. A garota caiu sentada, puxou a sua espada e tentou se defender, o que não aconteceu perfeitamente. O monstro fez um grande corte em seu braço. Kate gritou de dor, a criatura riu.
-Rulet in cölùngri! – gritou a criatura.
                Kate se levantou, precionou com força o grande corte em seu braço. Segundos depois, a criatura gritara, mas não como da última vez e sim de dor. Ele caiu, morto.
-Falei pra você ficar lá – disse uma voz atrás do corpo do monstro.
-Hn, sou teimosa – disse Kate, tentando se levantar.
-Você está ferida – disse o príncipe a ajudando.
-É só um corte...
-Um grande corte – interrompeu ele, rasgando um pedaço de sua blusa e amarrando-o no braço da garota – Temos que achar meus pais.
-Hm, é.. – disse sem jeito. Edward não esperou por ela, saiu a procura de seus pais. Olharam em várias salas, e nada – Edward, deveríamos estar lá fora para ajudar os outros.
-Tenho que encontrar meus pais – Disse ele desesperado, subindo e descendo escadas, entrando e saindo de várias salas.
-EDWARD! PRECISAMOS DE SUA AJUDA! – gritou Briu.
-Preciso encontrar..
-Kate pode cuidar disso. – disse ele interrompendo o príncipe.
                Edward suspirou, olhou para a garota e para o leão.
-Procure meus pais – disse ele seriamente. Logo em seguida, saiu correndo com o leão para fora do castelo.
-Ótimo, procurar seus pais. Aonde? – gritou Kate nervosa – Calma Kate, vamos começar nos quartos. Hn, lá em cima. – adivinhou ela. A garota começou a subir as escadas, em busca dos quartos. Chegou em  um, nada. Abriu a segunda porta, uma sala vazia – Qual a utilidade de uma sala vazia? Que desperdício de espaço – resmungou ela. Kate abriu várias outras portas, e nada. Pensou em desistir, mas logo imaginou o que Edward iria falar com ela, “Sua inútil, só nos trouxe destruição. Não conseguiu fazer um simples favor, achar meus pais!”, “Não, não.. sou sencível demais para ouvir isso”, pensou ela. Encontrou então, uma gigantesca porta, abriu-a com muito dificuldade, teve então uma grande surpresa: um homem muito elegante, deitado no chão, morto. Uma mulher linda ao lado dele chorando, estava muito ferida.
-Quem é? – perguntou ela assustada.
-Meu nome é Kate, sou amiga de seu filho.. vim para ajudar – disse ela se aproximando e ajoelhando perto da rainha.
-Estou morrendo, meu marido morreu. Nosso reino está sendo atacado, como poderá me ajudar? – disse ela rudemente.
Kate por um momento se sentiu muito ofendida, mas compreendeu perfeitamente o que ela queria dizer. O que uma garota de 17 anos poderia fazer em um momento desses?
-Kate hn? A futura rainha de meu filho? – disse ela tentando sorri – prometa que trará a paz em nosso reino.
-A paz..? – Kate foi interrompida pelo príncipe, que chegou perto de sua mãe. Estava com uma aparência horrível, suas vestes estavam rasgadas, seu rosto machucado, seus cabelos embaraçados e seus olhos, lotados de lágrimas. Kate nunca o vira assim, estava sofrendo tanto fora como dentro.
-Mãe.. – disse Edward com a voz falhando – Pai...
-Edward.. – disse sua mãe tocando o rosto do filho, estava muito fraca, mal conseguia falar  – vá com os outros...
-NÃO! Não posso te deixar aqui – disse Edward entre lágrimas.
-Meu anjo, volte.. o que vai adiantar me tirar daqui ? Estou muito ferida, é só questão de tempo até eu morrer.. quero que ajude aqueles que estão feridos. Fiquei feliz por ter achado sua noiva.. – sorriu a rainha para Kate – me prometa que trará Bringuisburg como era antigamente..
-Eu.. eu.. – Kate suspirou fundo e abaixou a cabeça – Eu prometo.
-Obrigada – disse gentilmente a rainha – Vá meu filho, por favor.
Edward puxou Kate pelo braço fortemente até a saida do castelo.
-EDWARD! EDWARD! ME SOLTA! ESTÁ ME MACHUCANDO! – gritou Kate para o príncipe.
O príncipe e a garota chegaram ao jardim do castelo e lá encontraram todos os sobreviventes do reino, todos os animais. Edward soltou o braço de Kate e começou a discutir com ela.
-VOCÊ ESTAVA LÁ! VOCÊ PODIA TER AJUDADO MINHA MÃE! POR SUA CULPA ELA ESTÁ MORTA!
-Ahh sim, claro.. foi tudo culpa minha. Eu que cheguei lá e enfiei uma espada em seu peito. Talvez ela não devia ter sido uma excelente rainha e mereceu morrer!
Todos os presentes olharam pasmos para Kate.
-Você não sabe o que está dizendo... você.. você pudia ter ajudado – disse Edward, gaguejando.
-E você acha que eu fiz o que?
-Você só truxe destruição para nós! Bringuisburg estaria bem melhor sem você aqui..
-Tem razão, ela estará bem melhor sem mim. Acho que já está na hora de voltar para casa..
-É, está mesmo..
-Não – disse seriamente o dragão – você prometeu que iria se casar com Edward.
-Hm.. acho que não poderei cumprir minha promessa, porque acho que todos vocês perceberam, Edward não quer se casar comigo.. ele está me acusando de ter matado seus pais.
Edward permaneceu calado. Kate olhou para todos e depois voltou o olhar ao príncipe. Deu meia volta e começou a andar em direção a floresta.
-Você não a culpou por isso. Me diz que foi mentira – disse Briu.
                Edward resmungou, sentou na grama e começou a ouvir as broncas do leão.
-Temos que ir atrás dela – disse Trupik – Meu senhor deverá pedir desculpas para a moça.
Briu nem esperou a resposta de Edward, saiu correndo com esperanças de alcançar a garota. Kate não estava muito longe, conseguiu chegar no lugar aonde foi encontrada.
-KATE! – gritou em um rugido.
-O que foi, Briu? – perguntou  Kate parando de andar.
-Kate, não vá. Você nos prometeu que nos ajudaria. Você viu o que aconteceu no castelo, agora ele realmente precisa de ajuda...
-Eu... – disse Kate o interrompendo – eu pensei em uma maneira de voltar para casa. Isso é um sonho. E para acabar com sonhos, é só acordar assustado. Então vou fazer algo que eu possa acordar como se eu estiisse morrendo, tem alguma ide..
-A caxoeira – disse seriamente Briu.
-Como?
-Só alguém completamente doido para pular de uma caxoeira de Bringuisburg. Principalmente aquela caxoeira que Edward te mostrou – disse Briu entre risadas.
-Hm.. – suspirou Kate sorrindo, então ela andou até o local da caxoeira, ajoelhou-se e olhou a altura – Bom, você acha que se eu pular daqui, eu conseguiria voltar? – a garota então, sentou na grama.
-Kate, eu estava brincando.. – disse Briu andando em direção a garota.
Kate não esperou que Briu terminasse sua frase,  já tinha se levantado e se posicionado em um local adequado para um mergulho no alto de uma montanha.
-BRIU! KATE! O que você vai fazer, Kate? – perguntou Edward correndo para alcançar Briu e a garota na floresta.
-Seria óbvio, não meu príncipe? – disse Trupik – Ela vai dar um mergulho – riu Trupik.
Kate não esperou a resposta de Edward, ela apenas pulou.
-Droga – Edward saiu correndo até a margem da caxoeira para pegá-la.
A garota então teve a esperança que já estava em casa até sentir muito frio, sentir suas vestes completamente molhadas, ela então abriu os olhos debaixo da água, achou que estava louca quando viu humanas com caudas, elas cantavam e brincavam. Queria poder ouvir mais aquelas belíssimas vozes, tinha que voltar para a superfície, estava ficando sem ar. Mas as vozes daquelas criaturas eram tão lindas que Kate começou a adormeceu, seu corpo foi afundando lentamente. Sentiu seu braço ser puxado rapitamente, chegou a superfície em questão de segundos. Kate tossiu, respirou fundo até recuperar o fôlego. Edward a puxou até a margem.
-Kate... o que deu em você? – perguntou Edward se aproximando da garota.
-Eu.. eu quero vol--tar  para casa.. – disse ela trincando os dentes de frio.
Edward apenas sorriu e com um gesto simples, sem esforço nenhum, ele a segurou no colo – Vamos, vou lhe dar roupas secas.
-Va--vamos a-aonde? – perguntou Kate.
-Para minha casa. Estão a reconstruindo, o castelo quase não teve nenhum dano, eu diria uns dois dias até ele ficar como era antes – disse o príncipe andando em direção ao castelo.
-E seus pais? – perguntou Kate timidamente.
-Cremados – disse Edward, com uma espressão de tristeza.
-Eu.. eu sinto muito.
-A culpa não foi sua. Me desculpe por ter gritado com você daquele jeito.
O príncipe e a garota chegaram então ao castelo, Kate ficou maravilhada com as roupas que Edward havia lhe oferecido. Eram lindas. Kate então, vestiu um vestido vermelho, com os mesmo detalhes dourados que havia no seu antigo vestido. Edward resolveu mostrar cada cômodo do castelo, jantaram juntos e ele a ensinou a lutar. Os dois resolveram passar a noite no jardim, ficaram adimirando as estrelas e assim, os dois cairam no sono. Kate, como da última vez, deitada no peitoral de Edward. Mais um dia em Bringuisburg, mais uma vida naquele reino mágico..